quinta-feira, 29 de setembro de 2011


O Reino de Deus, o Paraíso e o Milênio.

(testemunhas de jeová, adventistas e mórmons)





O povo dito cristão - católicos e evangélicos - pouco sabem acerca das heranças futuras que o Evangelho de Jesus nos prometem.

De fato, quase nada hoje em dia, tem sido dito acerca de nosso futuro no que se refere as “coisas que brevemente devem acontecer”.


Nestes dias de “evangelho de prosperidade, curas e bênçãos materiais”, pouco, ou nada se tem falado sobre as diferentes dimensões do Paraíso, Reino de Deus e Milênio.
Talvez seja a falta de conhecimento do assunto, ou talvez sejam os cinismos de uma esperança cada vez mais distante nesses dias de “alta tecnologia” que nos tenha sabotado tais temas; ou talvez as inúmeras profecias da “volta de Cristo”, fracassadas, nos façam ser tão “cautelosos” nesses assuntos.


Nesse “hiato”, vazio e vácuo provocado por tais fatores, esses assuntos e temas concernentes ao Reino Futuro de Jesus, grupos como as Testemunhas de Jeová, Adventistas e Mórmons “deitam e rolam” na ignorância do povo chamado cristão, fazendo com que  o pastor ou o padre não saibam  por que alguns tão estudiosos e “inteligentes” abandonem suas igrejas para se unirem a esses grupos paralelos que andam “sabatinamente” e “dominicalmente” visitando suas casas!


     Por outro lado, os teólogos cristãos fizeram questão de confundir os mais interessados, discutindo, dentro desses temas, os diferentes pontos de vistas, catalogando tais contradições, criando confusões ao chamarem e classificarem  tais grupos de “milenistas, a-milenistas, pré-milenistas e pós milenistas, assim, em razão da “árvore”, perde-se a visão da “floresta” e mais uma vez, prefere-se não “tocar no assunto” limitando às salas de estudos teológicos e escatológicos tais temas e mais uma vez o povo permanece na ignorância! 

      O povo dito"reformado", os  ditos "fundamentalistas"  e os ditos "bereanos", adoram tais classificações!

    Alguns “teólogos” são tão chatos nesse ponto que suas divergências tiraram todo o prazer que essas realidades futuras da nossa salvação nos davam tornando-as sem gosto e sem sabor. Eles são como as pessoas que descascam uma cebola em suas finas camadas tentando descobrir o miolo da dita cuja cebola, perdendo assim a própria cebola.


O interessante é que na década de 70 e 80, esses temas foram bastante abordados pelos cristãos evangélicos; quase todos tinham uma noção das distintas fases que a mensagem da “volta de Cristo” nos propunha. Porém, nas décadas seguintes, uma total ausência dessas mensagens se fez perceber em nosso meio sendo substituída por essa mensagem enganadora da teologia da prosperidade e todas as suas ramificações.


Conclusão: uma série de fatores, alguns deles descritos, superficialmente acima, nos “roubaram” esses gloriosos temas. A maioria dos frequentadores dos templos e mega templos pentecostais e neo pentecostais, não fazem nem ideia desses assuntos que estão fartamente descritos nas Sagradas Escrituras. 
E na outra ponta, os fundamentalistas “teologizaram” demais essas mensagens, tais como os “descascadores” de cebola que eu mencionei!


Mas vou me atrever a descrever um pouco deles aqui, correndo o risco de “esbarrar” numa dessas possibilidades.


A Bíblia faz distinção entre Reino de Deus, Paraíso e Milênio.


O Reino de Deus é “eterno”, ou seja, ele existe desde “antes da fundação do mundo” e ele perpassa por todas as Escrituras. Ele é transcendente, transparente, imanente e emanante, amplo e abrangente. Ele é invisível e um “dia” se fará visivelmente. Sua geografia é impossível de ser delimitada e as criaturas “incluídas” nEle são impossíveis de serem descritas, sejam elas anjos ou homens, seres viventes alienígenas ou arcanjos e serafins. Onde Deus estiver “dominando” o Reino de Deus estará presente! Ele é um estado do ser que ainda não é, mas que um dia será! Todos os homens são convidados para entrar nele e Jesus falou exaustivamente dele em suas parábolas, ensinos e sermões. Nos dois últimos capítulos do livro do Apocalipse ele assume contornos físicos e geográficos, bem como para “toda a eternidade”. Ele foi e é o sonho de todos os profetas e apóstolos que morreram por acreditarem nele. Esse é “basicamente” o Reino de Deus!


Já o Paraíso, o "Céu", é descrito na Bíblia como  "um" lugar “intermediário” dos que já partiram para o Senhor na Glória.


Jesus disse para o ladrão na cruz: “hoje tu estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23: 42 e 43). E Paulo subiu à ele (o paraíso), chamando-o também de “terceiro céu” (II Coríntios 12: 1-4). Jesus levou “cativo o cativeiro” para esse “céu” e depois deu dons aos homens (Efésios 4). Ele não é o Reino de Deus, mas apenas um “fragmento de tempo” do Reino de Deus. 
O próprio Jesus distinguiu o paraíso do Reino Eterno quando o dito cujo ladrão da cruz pediu entrada para Ele no “seu reino”.


O paraíso é apenas um “precursor” do Reino de Deus! Quando a pessoa “morre em Cristo” é para lá que ela vai. Nesse caso a pessoa já entrou no Reino da Glória , mesmo sendo esse reino, o Paraíso, que serve como uma “ante-sala” do Reino! Tipo a “recepção” das “mansões celestiais”.


Já o “Milênio” (tão propagandeado pelas “testemunhas de Jeová”) já é uma outra realidade descrita pela Bíblia (seja você um pré, pós ou “a- milenista”!).


O milênio descrito na Bíblia é um período “especifico” do Reino de Jesus na Terra que antecederá o Juízo Final. Ele é terreno e temporal. Será de “mil anos”. Jesus assumirá o controle político e mundial dele e nele. Ele terá uma relação “estreita” de Israel (os 144 mil judeus) e seu vínculo com as outras nações da Terra. Nesse período, a Terra sofrerá “mutações” e muitas leis naturais e da Natureza serão alteradas (o menino brincará com o leão e o mais jovem pecador morrerá com “cem anos, a Lua e o Sol terão poder de curar; armas de guerras serão transformadas em arados e ferramentas agrícolas, etc...”). Jesus regerá “as nações” com vara de ferro enquanto Satanás estará preso no abismo. Depois desse tempo, Satanás será solto e sairá “para enganar as nações”- veja bem - as nações!. 

Mas e a Igreja? Onde estará nesse tempo? 

Estará no céu (paraíso) ou no milênio (na Terra)?


A questão aqui é o “tamanho" e o "FORMATO" de "Igreja” que a gente tem na cabeça! 

Será que não haverá uma “igreja” no milênio?

- Claro que haverá! 

Mas não com os contornos e com as formatações que ela é  (e nem com as mesmas pessoas) hoje!


E essa “Igreja” da qual eu me refiro não tem nem sequer as características das igrejas (com seus templos, denominações, materialidades e fisicalidades que ela tem hoje!). Ou seja, a Igreja “reinará” com Cristo, mas isso não quer dizer que ela estará no Milênio aqui, absolutamente, na Terra, embora uma parte dela deva estar aqui no período do Milênio!


Mesmo assim, a “Igreja” do tempo presente já reinará com Cristo não passando por mais nenhum tipo de juízo, provação ou tribulação!


Temos que entender esse “reinará” na Terra com Cristo como possibilidades de servi-Lo em outras “camadas” dimensionais do Reino de Deus e de Cristo!


O “Milênio” será físico e temporal aqui na Terra mas o Reino de Deus e de Cristo não se limitará à isso! De modo que, assim como o Paraíso, o “Milênio” será apenas um período e uma parte do “Reino de Deus”, mas ainda não será o “Reino de Deus” em toda sua plenitude e para toda a Eternidade!


As gravuras de uma família feliz e alegre brincando com ursos, leões e serpentes que os panfletos das “testemunhas de jeová” nos levam a IMAGINAR O PARAÍSO, não serve para nós, a Igreja! Ali não se resume o Reino de Deus! Muitas coisas mais maravilhosas nos aguardam! O Milênio (com toda aquela fantasia) dos panfletos das testemunhas de jeová, mórmons e adventistas é muito “pobre” comparado ao Reino de Deus que há de vir - EMBORA NÃO SE NEGUE QUE O MILÊNIO SERÁ MARAVILHOSO!


Mas então aquelas gravuras são mentirosas? Não, não são! Mas também não é só aquilo que eles “imaginam”! Vamos muito mais além daquilo, visto que aquela realidade será apenas um “período” de tempo que a Igreja, Israel e as Nações passarão por ele.


Fico chocado de ver o quanto tudo isso foi “reduzido” pela teologia das testemunhas de Jeová e pelos teólogos da Igreja dita cristã!


Como disse Paulo: “Nem olhos viram e nem ouvidos ouviram o que Deus tem preparado para aquele que o amam”. 
Então, nem o que eu descrevi até aqui e nem aquilo que você imaginou até agora, podem descrever o que Deus tem preparado para nós!


Creia nisso! 

Viva por isso!


Reinaldo de Almeida

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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Lutero - Reformado mais não Transformado


Lutero foi um homem; e nada além de apenas um homem. Ele não era o homem moralmente mais ilibado de sua sociedade [longe disso]; nem o mais culto; nem o mais inteligente; nem o mais sábio [a sabedoria andou muito longe dele muitas vezes], nem o mais influente; e menos ainda o mais “adequado”; pois, psicologicamente era um homem com muitos tormentos; e, depois de conhecer a Graça, ainda assim sofreu algumas sequelas de outros tempos.

De fato, Lutero era um homem muito doente de alma e coração; e sofria de males psicológicos que hoje o poriam sob forte indicação para ajuda psiquiátrica e psicológica; sem falar que é óbvio que, hoje, ele deveria viver sob medicação e assistência médica.

Tudo o que não havia em Lutero era equilíbrio psicológico; nem antes, nem durante e nem depois do advento da Reforma.

De fato, para mim, Lutero foi o pivô, o elemento histórico e fenomenológico de uma força Inconsciente Coletiva que estava pronta para derramar-se sobre a Europa já fazia alguns séculos; embora nos últimos cem anos antes de Lutero a tal força tivesse ganhado muito mais intensidade com os pré-reformadores; todos eles pessoas bem mais equilibradas que o Reformador alemão.

Assim, Lutero não é um Paulo; ele está mais para um Gideão; para um homem apanhado pelas circunstâncias e que teve seu papel beneficamente superlativizado pelas perseguições que sofreu; de modo que um Lutero “deixado”, não perseguido, teria sido um Lutero sem significado histórico.

Quando sua angustia de alma foi aplacada um pouco pelo entendimento do texto de Paulo aos Romanos (e depois aos Gálatas), sua insurgência contra Roma veio misturada com muitos elementos convergentes — a saber: o clamor das ruas, a insatisfação de muitos clérigos, a necessidade que alguns principados europeus tinham de ter um motivo religioso que os permitisse romper com o papado por uma causa nobre (e a “Reforma” lhes pareceu ideal); e, sobretudo, pela perseguição romana, a qual deu a ele [Lutero] o imediato status de inimigo qualificado do maior poder da terra: a Igreja de Roma.   

De fato foi Roma quem promoveu a Reforma, e não Lutero.

Eu disse que a consciência dele foi aplacada pela informação do texto, e ele creu no que estava dito; e, pelo texto ele foi adiante sem retroceder. No entanto, não foram a paz, a experiência do sossego de alma, o derramar de amor e Graça, e a alegria da boa liberdade — os elementos motivacionais de Lutero. Não! O texto havia dado a ele as razões de base teológica para romper com Roma, mas o fruto não era de excelência espiritual, mas, sobretudo, de natureza apologética; e historicamente capaz de receber o influxo de muitas forças e poderes hostis a Roma presentes naqueles dias de trevas.

Quanto mais leio sobre Lutero (ou, sobretudo, leio Lutero mesmo: suas cartas, sua correspondência com amigos, príncipes e reis), mas me convenço do seguinte:

1.                Ele era um homem em busca de libertação para suas pulsões sexuais descomunais;

2.                Ele revoltava-se com a opressão da Igreja sobre o povo;

3.                Ele foi impactado intelectualmente pela certeza de que se Paulo estava certo, a Igreja de Roma estava errada;

4.                Ele não hesitou (tanto por convicção como também por revolta) em enfrentar Roma com a verdade do Evangelho;


5.                Uma vez que isso foi feito o próprio Lutero se tornou símbolo de algo maior do que ele;

6.                O amparo que teve para traduzir a Escritura para o alemão popular deu ao que iniciara o poder revolucionário que o movimento ganhou;


7.                A alquimia do movimento misturava piedade pessoal do povo, muita revolta popular, uma grande dose de interesse político numa eventual ruptura com Roma, e o grito libertário de Lutero, o qual se fundamentava na Escritura, e, nela, sobretudo, em Paulo.


Entretanto, tudo o que aconteceu [com a perseguição sofrida em razão da opressão de Roma], incitou os ânimos de Lutero também de modo errado, pessoal, briguento, provocativo, e, por vezes, para além de toda medida de sabedoria e bom senso.

Mesmo assim, quando é a hora, até o louco e de fato descontrolado pode ser o instrumento do momento. Ninguém nunca sabe!

O que sei é que Lutero se fosse meu contemporâneo, eu mesmo, como irmão e amigo, recomendaria a ele que se tratasse com urgência.

Num artigo aqui do site, meu filho Ciro [autor do artigo] disse, e eu concordo com ele, que Lutero é uma das pessoas mais difíceis de se “precisar” na história. Isto porque quase todos os fatos de sua vida são sempre interpretados doutrinariamente, de um lado ou de outro.

Está na hora de se salvar Lutero da Reforma e a Reforma de Lutero; historicamente falando.

Entretanto, a inadequação humana dele para com o que de fato aconteceu exclusivamente pela Graça Soberana, é a melhor expressão da liberdade de Deus usando até Lutero, até qualquer um; dependo de Seu desígnio.

Lutero, porém, está longe de ser meu herói. 

Irmão sim, mas não herói; isto é que é difícil de explicar aos Reformados e Protestantes.


Isto porque, por um lado, temos muitos protestantes tentando torná-lo um homem absolutamente “santificado” e basicamente sobre-humano. Por outro lado vemos alguns apologistas católicos e/ou ateus, querendo pintá-lo como uma encarnação demoníaca de pura maldade. 

Conhecer os escritos de Lutero e sua vida é então um exercício fascinante para qualquer um que se interesse pela psicologia do homem da Reforma. E mais: pela alma coletiva que se estabeleceu no movimento Reformado e isso muito tem a ver com o próprio espírito separatista de Lutero.


Aliás, eu diria que se não fossem seus defeitos, dificilmente ele teria tido virtudes tão próprias para o momento histórico.

Sim! Pois o homem Lutero, fora daquela hora, de muito pouca valia teria sido para a causa da fé. E digo isto ainda que fazendo admissão de que muito do que se chamou de Reformar nada mais foi que insurreição política motivada pelos impulsos mais mesquinho dos poderosos contemporâneos do Reformador.  

Não concordo com muita coisa, mas entendo o fenômeno sem pieguice. 


Contradições...


Por um lado vemos um historiador famoso e linguista como Heinrich Von Treitschke (protestante), dizendo que "Lutero inventou o Novo Alemão em um dia". Enquanto Janssen (católico) diz que "Lutero não fez qualquer contribuição à língua alemã". As duas posições são não são verdadeiras. Lutero traduziu para o Alemão a obra mais difundida durante os próximos séculos, indubitavelmente isso influenciou a língua alemã. Entretanto, ele não a criou, obviamente. 

Lutero ajuda seus comentadores, tanto positivos quanto negativos, por ser uma criatura de profunda e absoluta contradição. Era capaz de afirmar e negar a mesma coisa em um espaço pequeno de tempo, o que nos permite citá-lo em quase qualquer tipo de ocasião, dependendo da utilização que queiramos dar a ele. 

Sua personalidade tinha marcas de profunda neurose e sem dúvida ele tinha tendências a surtos psicóticos. Uma vez, durante uma missa, enquanto se lia a passagem do Evangelho sobre o Gadareno, ele teve uma crise, e caiu no chão gritando: "Não estou possuído. Não estou possuído!" 

Ele tinha também uma personalidade maníaco-depressiva, e procurava vencer sua depressão através de excesso de trabalho ou excesso de oração; e depois passava por períodos de profunda melancolia e quietude; e que podemos ver nos seguintes exemplos: 

 “Eu preciso de duas secretárias. Eu praticamente não faço nada o dia todo a não responder e escrever cartas.”.


Isto ao mesmo tempo em que diz:

“Eu sou pregador do Convento e do Refeitório; e sou vigário do distrito; e, por isso, sou onze vezes mais que um Priorado; sou responsável pelos reservatórios de peixe de Leitzkau; e sou agente no Torgau no interesse da paróquia em Herzberg. Dou aulas em St. Paulo, e estou trabalhando em pesquisas nos Salmos e hinos. De fato, raramente me sobra tempo para assumir minhas funções e fazer as missas. Fisicamente estou bem, mas sofro em espírito. Por quase todos os dias na semana passada eu fui jogado entre a morte e o inferno; de tal modo que ainda tremo por todo o meu corpo e sinto-me exausto. Tempestades de desespero e de blasfêmia assolaram-me e eu tinha perdido Cristo quase completamente” (Luther's Letters, Enders Edition, vol. 1, pp. 66, 67, e vol. 6, pg. 71).
     
Também temos o oposto disto; e conforme o que lhe aconteceu já em 1521:

“Estou aqui, em total mornidão; tenho negligenciado a oração; e ando sem ter em mim qualquer suspiro ou desejo pela Igreja de Deus. Estou incendiado por todos os desejos possíveis desta minha carne descontrolada. É o ardor de espírito o que eu deveria sentir. Mas, ao invés disso, é o ardor da carne; desejo; preguiça; mornidão; sonolência—é o que me possui” (ibid. vol. 3, page 189). 


Lutero também tinha uma obsessão com o demônio, tinha a tendência de atribuir qualquer coisa que se lhe opunha à obra de Satanás, e talvez assim tenha instituído o germe da mania demoníaca que vemos em boa parte das igrejas reformadas. 

Temos múltiplas citações dele a respeito de suas constantes lutas com Satanás, mas uma das mais clássicas é: "Satanás dorme comigo mais frequentemente do que minha esposa.” 

Lutero também não tinha limites na língua, e não se importava em falar vulgarmente (inclusive com pungentes alusões sexuais); sendo essas algumas das coisas que mais seus acusadores usaram contra ele em seu tempo, e que ele em si mesmo assumiu sem pudores.


Não só falava como escrevia vulgarmente, e não era exatamente uma pessoa muito paciente como ele mesmo confessa:

“Ira age como um estimulante para todo o meu ser. Ela afina minha esperteza, põe um fim aos assaltos do diabo e me conduz ao que não temo. Eu nunca escrevo ou falo melhor do que quando estou com raiva. Se eu desejar compor, escrever, falar, orar e pregar bem, eu tenho que estar com raiva (“Table Talk,” 1210).”



Essa passionalidade de Lutero é uma de suas maiores características psicológicas. Lutero era sem dúvida Bipolar.

Uma de suas frases mais clássicas foi comentada por Nietzsche, em sua crítica ao espírito anti-racionalista romântico alemão:

Lutero diz:

“Se eu pudesse conceber pela razão que o Deus que mostra tanta ira e malignidade pudesse ser misericordioso e justo, de que me valeria a fé?”

E Nietzsche comenta:

“Desde tempos antigos, nada jamais criou maior impressão sobre a alma alemã; nada tentou a alma alemã também mais que esta dedução [de Lutero], a mais perigosa de todas, a qual por todas as verdades é pecado contra o intelecto: credo quia absurdum est.”

Essa passionalidade também acaba se refletindo em sua própria auto-percepção. Lutero acaba se convencendo que a Palavra de Deus não é Sola Scriptura, porém Solo Lutero.

Podemos ver isso em diversas passagens em que ele fala coisas como:

“Quando estou com raiva, não estou apenas expressando a minha ira, mas a ira de Deus”.

“Santo Agostinho e Santo Ambrósio não podem ser comparados a mim”.

“Nem em mil anos Deus derramou dons tão grandes sobre qualquer bispo como Ele derramou sobre mim” (E61, 422).

“Deus me indicou sobre toda a Alemanha, e eu audazmente me comprometo e declaro que quando vocês me obedecem, de fato e sem nenhuma dúvida, vocês estão obedecendo não a mim, mas a Cristo” (W15, 27).

“Quem quer que não me obedeça, não está desprezando a mim, mas a Cristo”.

“Quem quer que rejeite minha doutrina não pode ser salvo”.

“Ninguém deve se levantar contra mim”.

“O que eu ensino e escrevo permanecerá verdade mesmo que o mundo inteiro caia em pedaços” (W18, 401).

Lutero também acabou criando as sementes da igreja triunfante, que iguala a Deus a sua causa - própria:

“Se Deus se preocupa com os interesses de Seu Filho, então Ele cuidará dos meus; minha causa é a causa de Jesus Cristo. Se Deus não se interessa pela glória de Cristo, Ele estará pondo o que é Seu em perigo; e Ele mesmo terá de aceitar a vergonha”.

Ao mesmo tempo Lutero é capaz de brigar com esse Deus e esse Jesus [que ele mesmo criou] sempre que sua vontade não é feita:

“Eu tenho mais confiança na minha mulher e nos meus discípulos do que eu tenho em Cristo” (“Table Talk”, 2397b). “Deus muitas vezes age como um homem louco”; “Deus é estúpido” (“Table Talk”, No. 963, W1, 48). 



Lutero também é capaz de ver em Jesus sua própria fraqueza; ao comentar João 4 acerca de Jesus e da mulher samaritana, ele afirma:

“Jesus cometeu adultério com a mulher do poço sobre a qual nos fala João. Não estavam todos perguntando: ‘O que vem Ele fazendo com ela? ’ Em segundo lugar ele adulterou com Maria Madalena; e por último com a mulher flagrada em adultério, a quem Ele despediu tão suavemente. Assim, até Jesus, que era tão santo, tem de ter sido culpado de fornicação antes de morrer” (“Table Talk”, 1472) (W2, 107).

Lutero também [em sua teologia] acabou completamente esquecido de qualquer tipo de movimento para fora de si mesmo e em relação aos outros; pois chega até mesmo ao ridículo ao falar:

“Não interessa o que o povo faz; só interessa o que eles crêem”. “Deus não precisa de nossas ações. Tudo o que Ele quer é que oremos a Ele e que lhe sejamos gratos. Mesmo os exemplos de Cristo significaram nada para Ele mesmo. Não tem importância como Cristo se comportou — o que Ele pensava é tudo o que interessa” (E29, 196).  

Assim, não é de se estranhar que ele gostaria de arrancar Tiago da Bíblia!


Porém ao mesmo tempo, Lutero nos afirma a realidade da humanidade em pecado; mas parece só conceber a Graça como indulgência, e nunca como poder transformador do ser; a começar do dele:


“Seja um pecador e peque com ousadia, mas creia mais ousadamente ainda. Todos os homens, incluindo os santos e os apóstolos são pecadores. Todo bom santo é um bom pecador. Os apóstolos eram pecadores... Eu creio que os profetas frequentemente pecavam graves pecados”.

Agora com relação a três aspectos que a Igreja em geral assume como inegociáveis da espiritualidade cristã: temperança (especialmente no álcool), sexo e falar a verdade; eis como ele via a questão. 


Sobre o álcool Lutero escreve e afirma que o povo alemão bebia tanto que somente uma calamidade os faria parar de beber. E conclui: “Eu sei que não pratico o que ensino” (Enders, 2, 312).  


E, de fato, honestamente, ele realmente não praticava:

“Deus considera a bebedeira um pecado pequeno; tem que considerar; afinal, quem pode parar com isto?”

“De acordo com o ditado, temos que nos compor com os tempos; e os tempos são ruins; as pessoas estão piores; nossos atos mais que piores... Até aqui a bebida tem me impedido de escrever e de ler; vivendo com os homens tem-se que viver como eles vivem”.

“Se eu tiver um copo de cerveja, vou quer o barril”.

“Estou atormentado por infecções na garganta como nunca antes; possivelmente resultado do vinho forte, o qual aumentou a inflamação; ou pode ser uma bofetada de Satanás”.

“O que é necessário para que alguém viva uma vida de autocontrole não existe em mim”.

Seu amigo Alexander chega a afirmar que Lutero era viciado em beber demais e incapaz de parar. 


Casamento e sexo...

Também sobre o casamento ele era ambíguo. Podemos vê-lo afirmando coisas muito belas e interessantes, moralizantes até; apresentando-se como o restaurador da posição nobre do casamento na sociedade:

“Nenhum dos ‘Pais da Igreja’ jamais escreveu qualquer coisa notável sobre o casamento”.

Entretanto, ele também demonstra sua fraqueza sexual quando escreve a respeito de sua própria sexualidade:

“Em vez de reluzir no espírito, estou reluzindo na carne”.

“Eu queimo com todos os desejos de minha carne e que me comem e me ardem com chamas de desejo. Resumindo: Eu que deveria ser um do espírito, estou comendo meu próprio coração pela minha entrega à carne, através da lascívia, da preguiça, da mornidão e da sonolência” (Enders 3, 189).

E continua afirmando o que seria a solução de seu problema:

“O ferrão da carne pode ser facilmente diminuído tão somente haja meninas e mulheres à disposição”.

“O corpo pede uma mulher e precisa tê-la”.

“Casar é um remédio para a fornicação”.


Lutero também tem uma atitude extremamente pragmática sobre o casamento; a qual chocaria muitos Luteranos de hoje.

Lutero retira conscientemente o casamento da lista de sacramentos por uma razão muito prática: ele acha que o casamento não tem nada a ver com Deus.

“O casamento é uma coisa externa, do corpo, como qualquer outra coisa passível de manipulação”.

“Casamento é como qualquer outro negócio”.

“O corpo nada tem a ver com Deus. Nesse sentido alguém pode nunca pecar contra Deus, mas apenas contra seu próximo”.

“Embora as mulheres sintam vergonha de confessar, mas tanto as Escrituras, como a experiência, nos dizem que entre milhares de mulheres não há sequer uma que seja casta”.

Ao mesmo tempo em que assim diz, ele é extremamente incoerente ao não conseguir dissociar sexo e pecaminosidade em sua obsessão:

“Embora eu fale muito bem do casamento, não farei tamanha concessão à natureza humana a ponto de admitir que não haja pecado na conjugalidade (...) o ato conjugal nunca é praticado sem pecado”.
O ato conjugal, de acordo com Lutero, é “um pecado que em nada difere do adultério e da fornicação”.
Lutero não “racha” com Agostinho nesse sentido. E não consegue também deixar seu machismo adoecido: “A palavra e a obra de Deus são muito claras: As mulheres foram criadas para se tornarem ou esposas ou prostitutas”. (W12, 94). "


Lutero também chega a afirmar coisas que boa parte da igreja atual não conseguiria conceber: “Se você não quer, outra quer. Se a esposa não quer, tome a sua serva.“ (E20, 72). "Não é vedado a um homem ter mais de uma mulher”. (E33, 327.). 

Lutero não tem mesmo problemas em admitir sua atividade sexual e afirma em Abril de 1525 em uma carta a Spalatin (tentando encorajá-lo a casar-se) o seguinte:

“Um amante de renome como eu não se casa. (...) Eu já tive simultaneamente três mulheres (...) mas você é tão péssimo amante que não tem coragem de se casar nem com uma mulher só”.

De repente, meses depois, ele se casa com Catherina Von Bora, e escreve:

“Calei a boca daqueles que caluniavam a mim e a Catherine Von Bora”.

“Também me casei, e com uma freira. Eu poderia ser celibatário se não tivesse razões especiais para decidir não o ser. E assim fiz para desafiar o diabo e suas hostes, os meus opositores, os príncipes e os bispos, já que todos foram tolos o bastante para proibirem o clero de se casarE eu estaria disposto, de coração, a causar um escândalo ainda maior se conhecesse outra coisa mais bem engendrada para deixá-los furiosos e agradar a Deus“.

Sobre outro dos absolutos morais de sua época, a honestidade a qualquer custo, Lutero afirma coisas belas como:

“A meu ver, não há no mundo um vício mais infame do que mentir”.

Porém ao mesmo tempo não tem problema em relativizar qualquer absoluto, inclusive este:

“Os votos só têm de ser cumpridos enquanto for psicologicamente possível. Se não for mais possível, tem-se a permissão de quebrá-los”. E isso nós podemos ver exemplificado em sua relação pastoral com o Landgrave Filipe de Hesse. 


Filipe de Hesse, um dos príncipes que o apoiavam, era casado e tinha alguns filhos. Aos 35 anos de idade ele tentou obter de Lutero uma autorização para a bigamia, com o argumento de que era incapaz de se abster da fornicação e do adultério, pois nunca amou sua mulher, que obteve num casamento político.  Diz que ela lhe era desagradável, feia e fétida; e que é forçado a cometer fornicação ou pior, e que sua própria irmã, Elisabeth, lhe pedia para tomar uma concubina, e não tantas prostitutas. Lutero, ao lidar com essa situação social (temos que agradecer a Filipe por sabermos dessa situação, pois ele exigiu de Lutero sua posição por escrito), diz claramente (com a colaboração de Melachton):


“Declaramos, sob juramento, que isso deve ser feito em segredo (...) Não é nada incomum que os príncipes tenham concubinas (…) e este modo de vida discreto seria mais ameno do que o adultério.” (Documento datado de 10 de Dezembro de 1539 / Luther's Letters, De Wette — Seidemann, Berlin, 1828, vol. 6, 255-265)


O segredo estourou e Melachton se envergonhou profundamente, enquanto Lutero disse sem maiores pudores:


“Um ‘sim’ dito em segredo deve permanecer como um ‘não’ para o público e vice-versa.” “Que importância teria se, em favor de um bem maior e da Igreja Cristã, alguém tivesse de contar uma boa e categórica mentira?” (De Wette, vol. 6, 263) (Lenz, Luther's Letters, Leipzig, 1891, vol. 1, 382) 


Semelhantemente a Lutero, Calvino, Zwinglio e Knox, todos publicamente escreveram e aprovaram assassinatos para o avanço da causa Protestante.


A ânsia de poder dos reformadores já trouxe dentro de si a semente da nova institucionalização.

Assim, a consciência da Graça chegou à Reforma de modo completamente poluído.

Surgiu uma crença bíblia na justificação pela fé, e uma renovação da idéia de ler a Bíblia; embora Lutero desejasse fazer uma triagem na Escritura; pois, Tiago, Hebreus e o Apocalipse tinham para ele pouco valor.

Faltou existencialidade na Reforma, e sobrou forma e doutrina; e tudo à moda do “método religioso-científico”, criado pelos pais da Igreja Romana, a fim de interpretarem a Bíblia.

Lutero, por exemplo, jamais soube coisa alguma acerca de Jesus como Chave Hermenêutica para se entender a Escritura; e todo seu método de leitura se baseava nas noções hermenêuticas dos gregos.

Logo a doutrina se tornou espada e aparato de guerra no serviço da causa político-religiosa.

Também é possível notar a profundidade do surto narcisista de Lutero quando a coisa toda convergiu subitamente para ele.

O Grande valor de Lutero é a loucura de sua coragem; embora seja uma coragem alucinada e sem equilíbrio; e, por vezes, muito atrelada a orgulhos, vaidades e disputas pessoais.

Assim, voltar à Reforma é voltar ao que não leva ao inicio de nada desejável; sendo desejável apenas à alternativa Católica daqueles dias.

Em meu livro “Sem Barganha com Deus” eu digo o que vejo de bom na Reforma, embora deixe claro que, para mim, ela foi apenas um Catolicismo que fez Dieta; e nada, além disso.

Nossa busca tem exclusivamente a ver com Jesus e com o Evangelho. Portanto, Lutero é para mim como um dos juízes toscos do tempo antigo; usado por Deus como um Sansão ou um Gideão; porém, longe de se parecer com um homem do Novo Testamento.

Além disso, o espírito de Lutero [o lado ruim de seu espírito conturbado e de sua mente surtada] ainda define muitas das doenças encontradas no meio cristão da ala protestante [seja reformada, ou seja, o subgrupo chamado pentecostal; e, antes deles, os Puritanos].

Assim, quando olho para o Evangelho, vejo em Lutero um homem das cavernas em relação à Graça; e que parou no entendimento tão logo criou uma “doutrina”, a qual, pouca pacificação lhe trouxe ao ser.

De fato, Lutero se parece muito com o Evangélico que creu na doutrina, tornou-se religioso na crença, mas não conseguiu experimentar a Graça como bem pessoal. Dá tanta culpa feita rebelião e tanta luta psicológica com o “diabo”.

O que Deus deseja fazer hoje é muito mais, e não tem na Reforma nada além de História; pois, conforme ensinou Jesus, não se põe remendo de pano novo em vestes velhas.

Oremos pelo Novo!

Novo é o que nos aguarda!


Nele, que usa a todos para um fim proveitoso, ainda que muitas vezes chocante,


Caio

Lançamento do livro: CAÍDOS - Autor: Reinaldo de Almeida

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