segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A "Casa do Pai" - texto errôneamente interpretado

Há duas ocasiões no evangelho de João onde temos episódios referentes a "Casa do Pai". O primeiro se encontra no capítulo 2:16, onde Jesus enfrenta o comércio praticado no templo de maneira enérgica e radical. Um pouco mais abaixo, no mesmo contexto, ele explica claramente que num momento imediato àquele, o templo seria de fato destruído, e uma nova realidade espiritual seria erguida levando ao entrelaçamento dos que o seguiam com a união do Pai e do Filho formando daí um templo espiritual, concreto e real.
Com a morte e a ressurreição d'Ele, um templo divino seria erguido em três dias. Isso está bem evidente no texto não precisando de nenhuma "revelação" extraordinária por parte de quem lê.

Mas então o que acontece no texto seguinte de João capitulo 14:2? Como é que nós o interpretamos nos condicionamentos religiosos de nossas escolas dominicais e pregações escatológicas?
Estranhamente alegamos que ali Jesus está se referindo às "mansões celestiais" (!?). Tá falando do "céu". De sua Vinda.
De onde tiramos isso? Como pode Jesus ser tão confuso assim?

Em nossa certeza escatológica usamos esse texto para afirmar a sua segunda vinda! Nada mais incoerente...

Nossos muitos anos de condicionamentos eclesiásticos superam a lógica simples de entendermos as Escrituras. Alías, violentamos o texto bíblico descaradamente.
Não é assim?
Vejamos por exemplo: quem nunca ouviu dizer que a "Casa do Pai" na parábola do Filho Pródigo não é a "igreja" de onde somos membros?
Como diz Caio Fábio: "para os crentes e evangélicos hoje, Jesus virou "igreja".

Quem nunca ouviu explicação que é a igreja que faz o papel de "videira verdadeira" em João 15?
Dizemos ser Jesus, no entanto, pensamos na "igreja". E em toda nossa relação com ela no "dar frutos" (algum "ministério"relacionado aos departamentos dela), ser cortados (excluído da comunhão e da membresia) e ser "lançado fora" (desviado).

A coisa toda está pré-fabricada em nossa cabeça e na cabeça de milhões de "crentes".
Esta mesma ilusão se encontra em João 14, pois vejamos:

A casa do Pai na mente de um judeu nos dias de Jesus era o templo. Segundo a lei mosaica só os levitas e sacerdotes podiam entrar no templo em Jerusalém.
Conforme lemos em Neemias 13: 4-9 existiam câmaras dentro do templo onde sacerdotes e levitas podia se alojar nos dias em que ficavam escalados para exercerem seus ofícios sacerdotais. Esse costume prevaleceu até os dias de Jesus (Lucas 1:23).
Na "cabeça" de um judeu comum, (seguidor de Jesus) jamais um deles poderia sequer imaginar "morando na casa do Pai", então Jesus chega e faz esta declaração bombástica: "na casa de meu Pai há muitas moradas!"

Imaginem a força de tal declaração na cabecinha deles? Eles poderiam também morar no templo!
Lembre-se que na cultura religiosa e por séculos de tradição histórica, o templo representava a casa de Deus, e como Jesus era o único judeu que tinha coragem de chamar YHWH de "Pai", a conclusão era que a casa do pai (templo) de Jesus tinha muitas moradas.
Por isso, Tomé diz não saber o caminho, pois o templo tinha três portas de acesso até o Santo dos santos. Ou seja, só uma porta de acesso ao templo própriamente dito.
A primeira porta, que ia do pátio externo à entrada do templo e local sagrado, era conhecida como "o caminho". A segunda porta, que ia do átrio, onde estava o local do sacrifício dos animais, à entrada do lugar santo, onde estava a mesa com os pães asmos e o candelabro, chamavam de "verdade" e finalmente, depois do véu à entrada da porta do lugar santíssimo, se chamava "vida".
As três portas de acesso eram linearmente retas, de modo que, só existia "um" caminho para se chegar ao Shekináh.
O interessante é que a declaração de Jesus: "Eu sou o caminho, e a verdade e a vida" não é sem propósito, pois na cabeça dos discipulos deveria existir um outro "caminho" que Jesus sabia existir para se poder entrar no templo.
Entretanto, Jesus tenta "desconstruir" toda a aquela mentalidade em volta do templo de Herodes e chamando a realidade deles para uma outra dimensão que indicava o reino de Deus!
Mas, como naqueles dias eles tiveram dificuldade de entender e absorver tal realidade, assim tambem acontece nos dias de hoje!

3 comentários:

Anônimo disse...

"Nossos muitos anos de condicionamentos eclesiásticos superam a lógica simples de entendermos as Escrituras." ...

cara, vc é mau!!!

Junior disse...

Olá, gostei da forma como vc mostra que a a casa do pai não é a igreja, e de fato não o é. A igreja não é salvação, e não é a porta de entrada para o céu. Claramente Cristo afirma que Ele é a porta.

Só não entendi como em Joao 14:1 você diz que Cristo não está falando do céu e sim do templo de Herodes. Se for assim, como devemos entender as palavras que se seguem: "Vou preparar-vos lugar, e quando eu for e voltar vos levarei para mim mesmo para que onde Eu estou estejais vós também"? Iria Cristo construir mais aposentos no templo antes que o mesmo fosse destruído?

Reinaldo de Almeida disse...

Na "cabeça" de um judeu comum, (seguidor de Jesus) jamais um deles poderia sequer imaginar "morando na casa do Pai", então Jesus chega e faz esta declaração bombástica: "na casa de meu Pai há muitas moradas!"
Desde o início do texto, Jesus indica a "casa do Pai" como sendo a comunhão com ele, independente do espaço/tempo!

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