Eu tenho que aprovar aluno sem conhecer o suficiente das disciplinas para prosseguir numa série mais avançada.
Eu tenho que suportar todos os seus comportamentos indisciplinados porque os pais não educam seus filhos como deveriam e os encaminham para a escola como se eu fosse babá deles. Eles vêm conviver comigo todos os dias como se eu fosse um cachorro que late e eles dão atenção se quiserem e quando bem quiserem.
Eu tenho que dar aula em uma sala empoeirada, mofada e completamente desproporcional em tamanho para a quantidade de alunos (superlotação) porque não é uma sala de aula, e sim uma mine-biblioteca com uma lousa na parede... e isso tudo simplesmente porque as direções das escolas do município em que trabalho ganham gratificação por cabeça de aluno.
Eu tenho que dar aula em um ambiente sujo, lavado uma vez por mês, com mesas e cadeiras que são limpas a cada 15 ou 20 dias, simplesmente porque o pessoal da limpeza varre as salas, joga água no pátio e nos banheiros e se senta o restante do horário para decorar chinelos, ler livros, jogar damas, bem na frente da direção que não toma nenhuma atitude com medo de perder votos nas próximas eleições para diretor e vereador.
Eu tenho que tirar do meu bolso para comprar materiais básicos como cola e papel branco, porque a direção da escola está mais preocupada em colocar portão eletrônico e contratar bandas para as festas das mães e dos pais, em vez de comprar material mínimo necessário para que o meu trabalho produza um mínimo de efeito.
Eu sou alfabetizadora. E, embora minha profissão seja, em sua essência, muito gratificante e realizadora, estou muito cansada desse descaso de todos (governos, secretarias de educação, direções, famílias, os próprios colegas de trabalho).
Estou muito desiludida com essa pedagogia ridícula que supervaloriza o aluno e reduz a imagem do professor a um simples mediador, quando, na verdade, a educação (tanto a formal quanto a informal) só é produzida quando há alguém para ENSINAR.
Estou muito triste com a qualidade de ensino que tenho prestado, sabendo que se eu tivesse mais apoio (pelo menos material) dos responsáveis maiores que eu, certamente teria mais sucesso no meu trabalho.
Infelizmente eu sou mais um professor frustrado com a educação, que está esperando só uma oportunidade mais vantajosa para pular fora desse sistema que, por pouco, ainda não me fez enfartar.
Deus abençoe a todos e me dê muita graça também até que chegue o meu tempo de mudar de vida. Ainda estou aqui por causa de um plano de Deus que está se cumprindo para mim e envolve esse período na rede pública.
Mas espero em Deus que, dentro em breve - muito breve mesmo - terei novidades a meu respeito para compartilhar.
Shalom.
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